42.Se caísse uma chuva de alimentos, não enchia a panela da pobreza-v2-cap-08-m42
Autor: Ivanildo Vilanova e Severino Feitosa. Intérpretes: Idem. Gravadora: Sertanejo/Chantecler. LP: Cantadores de Hoje.
Quem é pobre não pode mais viver
Nesta época de crise tão ingrata
Se calar-se com fome, a fome mata
Se falar, é pior o que vai sofrer
Por passar muito tempo sem comer
Vai criando ferrugem até na presa
Não conhece o que é batata inglesa,
Beterraba, cenoura nem fermento
Se caísse uma chuva de alimento,
Não enchia a panela da pobreza
O pobre, apesar de ser cristão,
Ninguém vê com bons olhos nem na missa
Sem direito, sem voz e sem justiça
O ser pobre é um crime sem perdão
Só é visto na época de eleição
O político lhe usando por defesa
Para trocar o seu voto, com certeza
Por almoço ou um quilo de cimento
Se caísse uma chuva de alimento,
Não enchia a panela da pobreza
Quem é pobre não tem educandário
Sua casa é mocambo ou palafita
Mesmo a vida do pobre só imita
Aos tormentos de Cristo no calvário
Quando arruma um emprego, seu salário
É sujeito aos caprichos da empresa
Só a mão da divina natureza
É quem pode acabar seu sofrimento
Se caísse uma chuva de alimento,
Não enchia a panela da pobreza
Vi um pobre dizer na avenida
“Já não sei nesse mundo o que mais faça”
Se pedir, a polícia me ameaça
Se roubar, um mão branca me liquida
Inda tinha alegria em minha vida
Com um rádio de pilha em minha mesa
Este mesmo calou-se – que tristeza!
Eu não pude comprar mais elementos
Se caísse uma chuva de alimento,
Não enchia a panela da pobreza
A pobreza não pode gargalhar
Achar graça com nada nesta vida
Porque vive tristonha e oprimida
No trabalho, na rua e no seu lar
Nem querendo ela pode acompanhar
O cardápio grã-fino da riqueza
Quando come algum bife à milanesa
É tirado de carne de jumento
Se caísse uma chuva de alimento,
Não enchia a panela da pobreza
Todo pobre no mundo passa mal
Em império, república e ditadura
Autarquia, governo e prefeitura
Ninguém dá-lhe assistência social
E no dia em que baixa ao hospital
Não tem trato, conforto nem limpeza
Não podendo aguentar com a despesa
Vai direto ao cordão de isolamento
Se caísse uma chuva de alimento,
Não enchia a panela da pobreza
É o pobre manjado no serviço
A polícia o mantém no seu caderno
Para festa não vai que não tem terno
E no clube é sem vez por ser disterço
Reside no morro, num cortiço
Onde a lâmpada é a simples vela acesa
Lixo e lama por toda a redondeza
De ver tanta miséria eu não aguento
Se caísse uma chuva de alimento,
Não enchia a panela da pobreza
Quando o pobre padece a gente fala
“Seu lençol é a banda de uma estopa
Um gancho de pau, seu guarda roupa
Um caixão de sabão, a sua mala
Coletivo apertado é seu opala
Seu calçado é sandália japonesa
Tendo cólica, sezão, fome e fraqueza
Chá de boldo é o seu medicamento
Se caísse uma chuva de alimento,
Não enchia a panela da pobreza
Comentários