68.Muerte de Soledad Barret-v2-cap07-m68
Autores: Mario Benedetti e Daniel Viglietti. Intérpretes: Idem. Gravadora: Orfeo (Argentina). LP: A dos Voces (1985).
(Benedetti)
Viviste aquí por meses o por años (1)
Trazaste aquí una recta de melancolía
que atravesó las vidas y las calles
hace diez años tu adolescencia fue noticia
te tajearon los muslos porque no quisiste
gritar viva hitler ni abajo fidel
eran otros tiempos y otros escuadrones
pero aquellos tatuajes llenaron de asombro
a cierto uruguay que vivía en la luna
ahora acribillaron en recife
tus veintisiete años
de amor templado y pena clandestina
quizá nunca se sepa cómo ni por qué
(Viglietti)
La duda lleva mi mano hasta la guitarra (2)
mi vida entera no alcanza para creer
que puedan cerrar lo limpio de tu mirada
no existe tormenta ni nube de sangre que puedan borrar
tu clara señal.
(Benedetti)
con tu imagen segura
con tu pinta muchacha
pudiste ser modelo
actriz
miss paraguay
carátula
almanaquequién sabe cuántas cosas
pero el abuelo rafael el viejo anarco
te tironeaba fuertemente la sangre
y vos sentías callada esos tirones
(Viglietti)
La soledad de mi mano se da con otras
buscando dejar lo suyo por los demás,
que a mano herida que suelta sus armamentos
hay que enamorarla con la mía o todas que los van a alzar,
que los van a alzar.
(Benedetti)
soledad no viviste en soledad
por eso tu vida no se borra
simplemente se colma de señales
soledad no moriste en soledad
por eso tu muerte no se llora
simplemente la izamos en el aire
desde ahora la nostalgia será
un viento fiel que hará flamear tu muerte
para que así aparezcan ejemplares y nítidas
las franjas de tu vida
(Viglietti)
Una cosa aprendí junto a Soledad:
que el llanto hay que empuñarlo, darlo a cantar.
Caliente enero, Recife, silencio ciego,
las cuerdas hasta olvidaron el guaraní,
el que siempre pronunciabas en tus caminos
de muchacha andante, sembrando justicia donde no la hay,
donde no la hay.
Otra cosa aprendí con Soledad:
que la patria no es un solo lugar.
Cual el libertario abuelo del Paraguay
creciendo buscó su senda, y el Uruguay
no olvida la marca dulce de su pisada
cuando busca el norte, el norte Brasil, para combatir,
para combatir.
(Benedetti)
por lo menos no habrá sido fácil
cerrar tus grandes ojos claros
tus ojos donde la mejor violencia
se permitía razonables treguas
para volverse increíble bondad
y aunque por fin los hayan clausurado
es probable que aún sigas mirando
soledad compatriota de tres o cuatro pueblos
el limpio futuro por el que vivías
y por el que nunca te negaste a morir.
(Viglietti)
Una tercera cosa nos enseñó:
lo que no logre uno ya lo harán dos.
En algún sitio del viento o de la verdad
está con su sueño entero la Soledad.
No quiere palabras largas ni aniversarios;
su día es el día en que todos digan,
armas en la mano: “patria, rojaijú”
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Da versão declamada por Benedetti no concerto A dos voces não constam alguns trechos do poema. A tradução integral do texto original é de Urariano Mota, autor do belíssimo livro Soledad no Recife: “Viveste aqui por meses ou por anos/ traçaste aqui uma reta de melancolia/ que atravessou as vidas e a cidade/ faz dez anos tua adolescência foi notícia/ te marcaram as coxas porque não quiseste/ gritar viva hitler nem abaixo fidel/ eram outros tempos e outros esquadrões/ porém aquelas tatuagens encheram de assombro/ a certo uruguai que vivia na lua / é claro então não podias saber/ que de algum modo eras/ a pré-história do íbero/ agora metralharam no recife/ teus vinte e sete anos/ de amor de têmpera e pena clandestina/ talvez nunca se saiba como nem por quê/ os telegramas dizem que resististe/ e não haverá mais jeito que acreditar/ porque o certo é que resistias/ somente em te colocares à frente/ só em mirá-los/ só em sorrir/ só em cantar cielitos com o rosto para o céu/ com tua imagem segura/ com teu ar de menina/ podias ser modelo/ atriz/ miss Paraguai/ capa de revista/ calendário/ quem sabe quantas coisas/ porém o avô rafael o velho anarco/ te puxava fortemente o sangue/ e tu sentias calada esses puxões/ soledad solidão não viveste sozinha/ por isso tua vida não se apaga/ simplesmente se enche de sinais/ soledad solidão não morreste sozinha/ por isso tua morte não se chora/ simplesmente a levantamos no ar/ desde agora a nostalgia será/ um vento fiel que flamejará tua morte/ para que assim apareçam exemplares e nítidas/ as franjas de tua vida/ ignoro se estarias/ de minissaia ou talvez de jeans/ quando a rajada de pernambuco/ acabou por completo com teus sonhos/ pelo menos não terá sido fácil/ cerrar teus grandes olhos claros/ teus olhos onde a melhor violência/ se permitia razoáveis tréguas/ para tornar-se incrível bondade/ e ainda que por fim os tenham encerrado/ é provável que ainda sigas olhando/ soledad compatriota de três ou quatro povos/ o limpo futuro pelo qual vivias/ e pelo qual nunca te negaste a morrer”.
Tradução para o português da letra da canção de Viglietti: “A dúvida leva minha mão até o violão/ Minha vida inteira não basta para acreditar/ Que possam fechar o seu olhar limpo/ Não existe tormenta nem nuvem de sangue que possam apagar/ Seu claro sinal/ A solidão de minha mão se toca com outras/ Buscando deixar o que é seu pelos demais/ Porque a mão ferida que solta seus armamentos/ É preciso enlaçá-la com a minha e com todas que vão levantá-los/ Que vão levantá-los/ Uma coisa aprendi com Soledad/ Que o canto deve ser empunhado, precisa ser cantado/ Janeiro quente, Recife, silêncio cego/ As cordas até olvidaram o guarani/ Que sempre pronunciavas em teus caminhos/ De moça andante, semeando justiça onde ela não existe/ Onde ela não existe/ Outra coisa aprendi com Soledad/ Que a pátria não é um só lugar/ Como o libertário avô do Paraguai/ Cresceu buscando sua senda, e o Uruguai/ Não esquece a marca doce de seu passo/ Quando busca o Norte, o Norte Brasil, para combater/ Para combater/ Uma terceira coisa nos mostrou/ O que não logra um lograrão dois/ Em algum sítio do vento e da verdade/ Está com seu sonho inteiro Soledad / Não quer grandes discursos nem aniversários/ Seu dia é o dia em que todos digam/ Com as armas na mão: pátria, rojaijú”.
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