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Nesta seção, encontram-se gravações sobre política garimpadas depois da publicação do livro “Quem foi que inventou o Brasil?”. Se você conhece alguma canção que também deveria fazer parte da nossa seleção, não deixe de enviá-la. 

1.“Greve e o soldado” (1917).


Letra: Jorge Domingues (?). Música: Tenente Lorena (Benedicto Assis Lorena). Intérpretes:
Márcia Tauil (voz), Tico de Moraes (voz) e Farlley Derze (piano).
Partitura com letra (“Sem tirar nem por”) disponível no Instituto Moreira Salles.

 

Em dezembro de 1917, estreou no Teatro Boa Vista, na capital paulista, a revista do ano “Sem tirar nem por”, com texto de Jorge Domingues e música do tenente Benedicto de Assis Lorena, regente da Banda da Força Pública de São Paulo. A revista, com três atos, cinco quadros e três apoteoses, encenada pela Companhia Arruda, agradou muito ao público, com 26 apresentações, número expressivo para o teatro musicado paulistano na época.
A canção de “Sem tirar nem por” que fez mais sucesso foi o tanguinho
“Greve e o soldado”. Trata-se da única música sobre a greve geral de 1917 em São Paulo, composta e cantada no calor dos acontecimentos, produzida pela indústria cultural da época.
A paralização reuniu mais de 30 mil operários nos meses de junho e julho de 1917 em São Paulo, em sua maioria emigrantes, especialmente italianos e espanhóis. O movimento, que teve início nas grandes indústrias têxteis, logo estendeu-se para fábricas de móveis, bebidas, alimentos e estamparias, atingindo cerca de 35 empresas. Também pararam de trabalhar os condutores de bondes e os funcionários da Light.
Num primeiro momento, os patrões recusaram-se a negociar, demitindo muitos grevistas. Mas os trabalhadores não se intimidaram. Ao contrário, saíram às ruas para defender seus direitos. Foram reprimidos pela polícia com grande violência. Vários operários foram mortos a tiros. Em resposta, o movimento convocou manifestações para homenagear as vítimas, mobilizando multidões.
Estima-se que o enterro do sapateiro espanhol José Ineguez Martinez, de 21 anos, que chegara ao Brasil apenas seis meses antes de ser morto a tiros pela polícia, tenha reunido mais de 10 mil pessoas. São Paulo parou. Na época, a cidade tinha cerca de 300 mil habitantes.
A crise agravou-se de tal maneira que os representantes da grande
imprensa formaram uma comissão para intermediar as negociações entre os empresários e o Comitê de Defesa Proletária, composto pelos líderes do movimento, em sua maioria anarquistas. Depois de várias rodadas de conversas, os patrões aceitaram as principais reivindicações do movimento paredista: aumento salarial de 20%, libertação dos trabalhadores presos, não demissão dos grevistas, fim do trabalho de menores de 14 anos e proibição do trabalho feminino noturno.A canção “Greve e o soldado” é uma preciosidade. Embora sua melodia –sem os versos – tenha sido gravada em 1918 pela Grupo Vienense (Odeon R121454), o registro fonográfico encontra-se perdido. Felizmente a Casa Bevilacqua imprimiu no mesmo ano a partitura do tanguinho, mais tarde garimpada pelo jornalista José Ramos Tinhorão. Atualmente, ela está disponível no Instituto Moreira Salles.
Registre-se também que uma das apoteoses da revista “Sem tirar nem por”, intitulada “De volta ao trabalho”, também teve como motivo a greve de 1917.
Infelizmente, não se conseguiu localizar nem sua notação musical nem seus versos.
É bom lembrar que São Paulo chegou no teatro musicado ligeiro várias décadas depois do Rio de Janeiro. A primeira revista de teatro paulista data de 1899 e, pelo menos até meados da década de 1910, as principais peças musicadas apresentadas na capital paulista vinham do Rio ou do exterior. O tenente Lorena foi um dos principais compositores do teatro musicado ligeiro paulista entre 1917 e 1921, com nada menos de 14 revistas do ano e burletas, entre elas a popularíssima “Uma festa na freguesia do Ó”, grande sucesso de público em 1917 e 1918, com 70 apresentações.
Duas observações: a) a palavra “delambida”, que caiu em desuso em boa parte do Brasil, significa “atrevida”, “malcriada”, “presunçosa”; b) “Araçá” é o nome de um dos principais cemitérios da capital de São Paulo.
Nossos agradecimentos a Márcia Tauil, Tico de Moraes e Farlley Derze,
amigos de Brasília, pela deliciosa gravação dessa joia perdida no tempo.


(Soldado)
Veja bem o que faz,
Desordeira, delambida
(Greve)
Ande lá, me deixe em paz
Não se meta na minha vida
(Soldado)
Eu não sou de brincadeira
Veja lá, tenha juízo
(Greve)
Não venha dessa maneira,
De conselho não preciso
(Soldado)
Vá se embora, sua greve
Se não entra no pau já
(Greve)
Fique sabendo que em breve
Você vai ter no Araçá
(Soldado)
Eu não quero estrepolia,
Você quer que eu lhe dê?
(Greve)
Eu sou mulher de arrelia
Zombando estou de você
(Soldado)
Não vá dizer que sou mau
Não vá se queixar da sorte
(Greve)
Não tenho medo do pau

E tampouco da morte!

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2. Situação encrencada  *moda de viola (1930)

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Autor: Cornélio Pires. Intérpretes: Cornélio Pires, acompanhado pela Caipirada Barretense. Gravadora: Columbia.

 

Em abril de 1930, um mês depois das eleições presidenciais disputadas por Júlio Prestes e Getúlio Vargas, a Columbia gravou “Situação encrencada”, interpretada pelo autor, Cornélio Pires, com acompanhamento da Caipirada Barretense. Mas a moda de viola foi composta e cantada bem antes do pleito. Refere-se à crise do café que se seguiu à quebra da Bolsa de Nova Iorque em outubro de 1929 e ao fim da política do café com leite. Registra as disputas entre São Paulo e Minas Gerais, – e seus respectivos governadores, Júlio Prestes e Antônio Carlos de Andrada.

 

Para Cornélio Pires, quem estava pagando a conta do “baruião” era o povo. Embora paulista, ele atribui a responsabilidade da crise política à oligarquia do seu estado: “O povo todo tá gritando/ A curpa é do Julio Prestes”. Deixa clara também sua preferência eleitoral: “Mas depois da inleição/ Nós podemos ser feliz/ Se entrar o Getúlio Varga/ No lugar do Washington Luis”. E completa: “Todo mundo é liberar”, numa alusão à Aliança Liberal formada por Getúlio.

 

A moda de viola faz ainda menção à “revorta passada”, ou seja, à Revolução de 1924 liderada em São Paulo por Isidoro Dias Lopes, derrotada pelas tropas leais ao então presidente Artur Bernardes, que se uniu à Coluna Prestes.

 

Tomara que chega logo

 O tempo das inleição

 Pra ver se assim acaba

 Esse grande baruião 

 

 Julio Preste e Antônio Carlos

Muitos danos tão causando

Já tem muita gente pobre

Que até fome tá passando, ai

Que até fome tá passando

 

Já quebrou os fazendeiros

Assim que o governo qué

Tamos tudo sem carreira

Com essa baixa do café

 

Acabou o movimento

Até lá pra Noroeste

Povo todo tão gritando

Que o curpado é o Júlio Preste, ai

Que o curpado é o Júlio Preste

 

Quase todo fazendeiro

 Andava de Chevrolet

 Já tão andando a cavalo

 Com a baixa do café

 

Aqueles grande banqueiro

Cheio da libra estrelina

Encostou o carro do lado

Por farta da gasolina, ai

Por farta da gasolina

 

Nessa revorta passada

Ninguém pode ter saudade

E eu se fosse democrata

Não queria Artur Bernarde

 

Por ele ser o curpado

Na revolução passada

Ficou como o povo fala

É que a crise tá danada, ai

É que a crise tá danada

 

 Valeime Nossa Senhora

 Tem dó desse pessoar

 Se o café não suceder

 O operário passa mar

 

Fazendêro todo troncho

Ô é farta de vontade

Colonos trabaia um meis

Recebe só pra metade, ai

Recebe só pra metade

 

Mas depois da inleição

Nós podemos ser feliz

Se entrar o Getúlio Varga

No lugar do Washington Luis

 

 Por todo lado que eu ando

 Os voto são todo iguar

 Pelo jeito que se fala

 Todo mundo é liberar, ai

Todo mundo é liberar ...

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3. “Na Serra da Mantiqueira” (1932), seresta 

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Autor: Ary Kerner Veiga de Castro. Intérprete: Gastão Formenti, acompanhado pela Orquestra Victor Brasileira. Gravadora: Victor.

 

                Esta canção foi gravada por Gastão Formenti um mês após o fim da Revolução Constitucionalista de 1932. Fez muito sucesso na época, como um canto pacifista e apartidário. Começa com uma marcha fúnebre, que logo dá lugar a uma seresta popular, retornando a marcha no final trágico. Os versos não deixam claro de que lado lutou o filho de Mãe Maria, morto em combate – se nas tropas legalistas ou nos batalhões paulistas.

                Ao todo, foram quase três meses de conflito, de 9 de julho aos primeiros dias de outubro. Morreram mais brasileiros em combate em 1932 do que pracinhas na II Guerra. O número oficial é de 934 mortos, mas as estimativas são de que mais de 2 mil pessoas perderam a vida na curta guerra civil. Uma das principais frentes da guerra foi o Túnel da Mantiqueira, que separa São Paulo de Minas Gerais.

(Roberto de Azevedo)

 

Na Serra da Mantiqueira

Sob a fronde da mangueira

Que ela em moça viu plantar

Sentadinha no seu banco

Lá na encosta do barranco

Mãe Maria vai sonhar

 

Dos amores do passado

Só lhe resta um filho amado

Que lhe dá felicidade

Ele é todo o seu encanto,

Sua vida, o fruto santo

Da longínqua mocidade

 

E nas nuvens que correndo

Vão no céu aparecendo

Prá no ocaso descansar

Ela vê os belos dias

De venturas e alegria

Que não mais hão de voltar

 

Eis, porém, que veio a guerra

Abalando toda a Serra

Com o rugido do canhão

E a velhinha amargurada

Viu seu filho lá na estrada

Se sumir num batalhão

 

Segurando no rosário

No seu banco solitário

Mãe Maria reza agora

Pede a Deus ardentemente

Que lhe mande o filho ausente

Que já tanto se demora

 

E uma tarde ao sol poente

Ela escuta de repente

A voz meiga do rapaz

Que lhe diz tal como em vida

Muito breve, mãe querida

Lá no céu me encontrará

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4. “Vai, vai pra São Borja sossegar” (1945)

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Autores desconhecidos. Intérprete: Dulce Augusta Araújo de Castro. Gravação especial (2015)

           

De Colatina, no Espírito Santo, chega essa deliciosa marchinha, enviada por Dulce Augusta Araújo de Castro, que, gentilmente, gravou a canção guardada na memória de seu tempo de menina.

            “Vai para São Borja sossegar”, título atribuído, foi cantada no Espírito Santo durante as eleições presidenciais de 1945. Fazia campanha para o Brigadeiro Eduardo Gomes e mandava Getúlio voltar para São Borja, sua cidade natal. “Aí vem o brigadeiro para dar fim à ditadura”, anunciava. E, de passagem, dava uma lambada nos queremistas, que defendiam a permanência de Vargas no poder.

            O Brigadeiro foi derrotado. O general Eurico Gaspar Dutra, com o apoio de Getúlio e dos queremistas, venceu as eleições.

            Não há registro de que a canção tenha sido gravada na época.

           

Tem, tem, tem, tem

Tem outro pro teu lugar

Vai, vai, vai, vai

Pra São Borja sossegar

 

Volta pra tua fazenda

Volta vai ser boiadeiro

Dê o fora do Catete

Que aí vem o brigadeiro

 

Água mole em pedra dura

Tanto bate até que fura

Aí vem o brigadeiro

Pra dar fim à ditadura

 

Tu tens carne, tens açúcar

E tens casa pra morar

O pobre do operário

Mal tem onde trabalhar

 

Me valha Nossa Senhora

Pelo mais sagrado nome

Se tu duras mais um ano

Nós vamos morrer de fome

 

Queremistas são aqueles

Que não têm opinião

Que gostam de passar fome

E andar de pé no chão

 

5. “Volta, volta para o Brasil governar” (1950), paródia.

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Autores: desconhecido (música) e Dulce Augusta Araújo de Castro (letra). Intérprete: Dulce Augusta Araújo de Castro. Gravação especial (2015).

                 As eleições presidenciais de 1950 foram vencidas com folga por Getúlio Vargas, que derrotou o Brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN, e o mineiro Cristiano Machado, do PSD.

            Dulce Augusta Araújo de Castro, que morava em Colatina, no Espírito Santo, tinha então 16 anos. Criada numa família getulista, ela fez na época essa paródia de uma música a favor do Brigadeiro, cantada nas eleições de 1945 (ver Vai pra São Borja sossegar). E, cantando, pediu votos para Vargas em 1950.

            A marchinha nunca foi gravada comercialmente. Seu título é atribuído.

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Vem, vem, vem, vem

Para o povo sossegar

Volta, volta, volta, volta

Para o Brasil governar

 

Deixe a sua fazenda

Deixe de ser boiadeiro

Toma conta do Catete

Pra não ser do Brigadeiro

 

Água mole em pedra dura

Tanto bate até que fura

Vem Getúlio governar

Agora sem ditadura

 

Tu tens carne, tens açúcar

E tens casa pra morar

Levantou o operário

Que hoje sabe trabalhar

 

Me valha Nossa Senhora

Pelo mais sagrado nome

Se tu não vens agora

Nós vamos morrer de fome

 

Queremistas são aqueles

Que têm muita opinião

Não gostam de passar fome

Nem andar de pé no chão

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6. “”Pingo mulato”, valsa (1951)

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Autor: Pedro Raimundo. Intérpretes: Pedro Raimundo acompanhado por Pereira Filho e seu conjunto. Gravadora: Todamérica.

       Pingo é o mesmo que cavalo em gauchês. “Mulato” era o nome do alazão predileto de Getúlio, nascido e criado em São Borja, quase na fronteira com a Argentina, na Fazenda Santos Reis, de propriedade de seu pai. Nas comemorações pela espetacular vitória de Vargas nas eleições presidenciais de 1950, até “Mulato” foi  tema de música – uma valsa, gênero muito popular no Rio Grande do Sul.

                No dialeto gaúcho, “pago” é mesmo que lugar querido. “Flete” é sinônimo de cavalo. “Pala” é um poncho leve. “Garrão” é a parte inferior traseira da pata do animal. “Pelega” é uma nota de dinheiro.

 

Eu conheci lá nos pagos

Um lindo flete alazão

Lindo, de linda estatura

Pala, beirando o garrão

Puro sangue brasileiro

Nascido lá no rincão

Grande amigo do seu dono

Fez até revolução

 

Tem uma marcha trotada

Lindo, bueno de fato

Em toda parte que chega

Tiram logo seu retrato

Não se faça pra corrida

Cavalo desse no trato

Tem arreio prateado

E o seu nome é Mulato

 

Trinta pelegas de mil

Seu dono já enjeitou

Pra se livrar da oferta

Respondeu baixo e falou

– “Amigo não perca tempo

Não insista, por favor

O meu cavalo, Mulato,

A ninguém vendo nem dou ...”.

 

Mulato está no Rio Grande

Bem pertinho do estrangeiro

Perto da linda São Borja

Lindo rincão brasileiro

Falando bem a verdade

Eu vou dizer a vocês:

Mulato é do “Seu Getúlio”

Tá na Fazenda Santos Reis ...

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7. ” O pobre e o rico” (1961), samba

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Autora:  Carolina Maria de Jesus. Intérprete: Idem, com acompanhamento dos Titulares do Ritmo. LP: “Quarto de despejo ­– Carolina Maria de Jesus Cantando Suas Composições”. Gravadora: RCA Victor.
 

Carolina Maria de Jesus era uma moradora da extinta Favela do Canindé, nas margens do rio Tietê, na cidade de São Paulo. Catadora de lixo, mãe solteira com três filhos, escrevia seus cadernos havia vários anos. Era a forma que havia encontrado de enfrentar as enormes dificuldades dela e de sua família, como explicou mais tarde: “Quando eu não tinha nada que comer, em vez de xingar, eu escrevia”.

Em 1958, o jornalista Audálio Dantas conheceu-a durante uma reportagem na Favela do Canindé. Impressionado com seu talento literário, ajudou-a a lançar em 1960 o livro “Quarto de despejo”, pela editora Francisco Alves.

Em 1961, o livro de Carolina de Jesus já era um dos mais lidos no país, junto com “Gabriela, Cravo e Canela”, de Jorge Amado. Logo foi traduzido em 14 idiomas. A editora Francisco Alves deu-se conta do sucesso e abriu caminho para escritores inéditos de origem popular: Osório Alves de Castro (alfaiate), Moacir Lopes (marinheiro), Francisco Julião (líder das Ligas Camponesas).

Ainda em 1961, Carolina gravou seu único LP pela RCA Victor: "Quarto de despejo: Carolina Maria de Jesus cantando suas composições". Na contracapa do disco, Audálio Dantas contou que, ao ouvir os filhos de Carolina cantarolando sambas, descobriu que a autora era a mãe deles, que sonhava também um dia ser cantora de rádio.

A música de “O pobre e o rico” está em ritmo de balanceio, com versos simples. Usando a "inventiva caroliniana", como descreveu Audálio, ela protestava contra a guerra, onde o pobre sempre ia para o sacrifício. Os arranjos são do maestro Chiquinho de Moraes, o acompanhamento vocal dos Titulares do Ritmo (então no auge do seu sucesso) e a produção artística de Julio Nagib.
 

(Roberto de Azevedo)

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Ohh, ohh, ohh

(É triste a condição do pobre na terra)
É triste a condição do pobre na terra

Rico quer guerra
Pobre vai na guerra
Rico quer paz
Pobre vive em paz

Rico vai na frente
Pobre vai atrás
Rico vai na frente
Pobre vai atrás

Rico faz guerra, pobre não sabe por que
Pobre vai na guerra tem que morrer

Pobre só pensa no arroz e no feijão
Pobre só pensa no arroz e no feijão

Pobre não envolve nos negócios da nação
Pobre não tem nada com a desorganização


Pobre e rico vence a batalha
Na sua pátria rico ganha medalha
O seu nome percorre o espaço
Pobre não ganha nem uma divisa no braço
Pobre não ganha nem uma divisa no braço

Pobre e rico são feridos
Porque a guerra é uma coisa brutal
Só que o pobre nunca é promovido
Rico chega a Marechal
Rico chega a Marechal

Ohh Ohh Ohh

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8. Pau no burro” (1963), marcha

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Autores: João de Barro (Braguinha) e Radamés Gnattali. Intérprete: Joel de Almeida. Gravadora: Continental. LP: Carnaval de 1964

Esta marchinha do Braguinha e Radamés Gnattali, gravada por Joel de Almeida para o carnaval de 1964, apresenta os principais candidatos às eleições presidenciais marcadas para 1965. De um lado, a mais expressiva liderança conservadora do país, o então governador do estado da Guanabara, Carlos Lacerda, da UDN. Do outro, no campo progressista, o ex-presidente Juscelino Kubitschek, do PSD, tentava viabilizar seu retorno ao Palácio do Planalto. Já tinha até slogan na rua – “JK 65”.  Pretendia mais uma vez aliar-se com o PTB.

            Alziro Zarur, presidente da Legião da Boa Vontade, entidade religiosa que desenvolvia forte ação social, também sonhava com uma candidatura presidencial.

            A bandinha não foi muito longe. Menos de dois meses depois do carnaval, veio o golpe militar de abril de 1964. Em julho, o mandato de Castelo Branco, o primeiro general-presidente, foi prorrogado. Quinze meses depois, o regime militar terminou com as eleições diretas para presidente. Nos anos seguintes, cinco generais comandariam o país. O Brasil só voltaria ser governado por um civil em 1985.

 

Tra-la-lá ...

Vamos ver quem vai ganhá ...

 

Vamos embora minha gente

Pau no burro!

Vai ter festa no arraiá

Pau no burro!

A bandinha vai na frente

Animando o pessoá

 

O Lacerda vai no bombo

Juscelino no ganzá

O Zarur pedindo ao santo

Que é pra coisa melhorar

Pau no burro!

Vamos ver quem vai ganhá ...

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9. “Toca o bonde ” (1927), marchinha 

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Autor: Freire Junior. Intérprete: Artur Castro. Gravadora: Odeon R 123114

 

A revista “Toca o bonde”, de Freire Junior, encenada no início de 1927 no Teatro Glória, brinca com a confusão gerada pela decisão da Light de acabar com os “caraduras” ou “taiobas” – bondes que circulavam desde 1884 com a finalidade de transportar bagagens e cargas na cidade do Rio de Janeiro. Boa parte da população humilde também viajava em pé nos “caraduras”, porque a passagem era mais barata (um tostão). Apesar dos protestos do povo pobre, a mudança emplacou.

 

 

 –Toca o bonde! Deixa disso! Segue ou não segue?

– Olha esse barulho aí! Isso é um desaforo!

– Olha, que eu quero ir pras barcas

– É o novo regulamento da Light

– Regulamento o que? Eu paguei um tostão quero ir pra casa

– O senhor se cuida no Largo do Rocio

– Deixa tudo pro Largo do Rocio

– Toca ou não toca essa ..

 

Já ninguém ignora

As mudanças de agora

Com os bondes da cidade

A medida recente

Que assustou (?) muita gente

Mas que grande crueldade

 

Quem só tem um tostão

Fica mesmo na mão

Eis a sua desventura

Essa Light é matreira

Não vai a Cantareira

Um só bonde caradura

 

Manda quem pode

Não quem tem razão

Não vai às barcas bondes de tostão

Chora, chora, minha gente

Na cama que é lugar quente

 

– Ora isso! Toca o bonde! Eu quero ir pras barcas!

– Daqui a pouco a Light tem que parar no mangue ... Toca o bonde!

 

Estas novas medidas

Que já chamam “comidas”

Põe a gente até maluca

São coisinhas da vida

Só vão para a Avenida,

Botafogo ou na Tijuca

 

Essa Light é sabida

Nunca perde a partida

Ponha-se a gente no relho

O Zé Povo modesto

Foi com todo protesto

Para o Largo do Rocio

 

Manda quem pode

Não quem tem razão

Não vai às barcas bondes de tostão

Chora, chora, minha gente

Na cama que é lugar quente

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