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Acervo/blog

Vocês que fazem parte dessa massa Que passa nos projetos do futuro É duro tanto ter que caminhar E dar muito mais do que receber E ter que demonstrar sua coragem À margem do que possa parecer E ver que toda essa engrenagem Já sente a ferrugem lhe comer

Êh, oô, vida de gado Povo marcado Êh, povo feliz!

Lá fora faz um tempo confortável A vigilância cuida do normal Os automóveis ouvem a notícia Os homens a publicam no jornal E correm através da madrugada A única velhice que chegou Demoram-se na beira da estrada E passam a contar o que sobrou

Êh, oô, vida de gado Povo marcado Êh, povo feliz!

O povo foge da ignorância Apesar de viver tão perto dela E sonham com melhores tempos idos Contemplam esta vida numa cela Esperam nova possibilidade De verem esse mundo se acabar A arca de Noé, o dirigível, Não voam, nem se pode flutuar

Êh, oô, vida de gado Povo marcado Êh, povo feliz!




Tá vendo aquele edifício, moço? Ajudei a levantar Foi um tempo de aflição Eram quatro condução Duas pra ir, duas pra voltar Hoje depois dele pronto Olho pra cima e fico tonto Mas me chega um cidadão E me diz desconfiado

Tu tá aí admirado Ou tá querendo roubar? Meu domingo tá perdido Vou pra casa entristecido Dá vontade de beber E pra aumentar o meu tédio Eu nem posso olhar pro prédio Que eu ajudei a fazer

Tá vendo aquele colégio, moço? Eu também trabalhei lá Lá eu quase me arrebento Pus a massa, fiz cimento Ajudei a rebocar Minha filha inocente Vem pra mim toda contente Pai, vou me matricular Mas me diz um cidadão Criança de pé no chão Aqui não pode estudar Esta dor doeu mais forte Por que que eu deixei o Norte Eu me pus a me dizer Lá a seca castigava

Mas o pouco que eu plantava Tinha direito a comer

Tá vendo aquela igreja, moço? Onde o padre diz amém Pus o sino e o badalo Enchi minha mão de calo Lá eu trabalhei também Lá sim valeu a pena Tem quermesse, tem novena E o padre me deixa entrar Foi lá que Cristo me disse Rapaz, deixe de tolice Não se deixe amedrontar

Fui eu quem criou a Terra Enchi o rio, fiz a serra Não deixei nada faltar Hoje o homem criou asas E na maioria das casas Eu também não posso entrar




Eu acabo tendo raiva

Das coisas que causam pena

E penas já tenho tantas

Das que são minhas somente

Eu não consigo levar

Essa minha vida em frente

Levando comigo ainda

As penas de tanta gente

E eu não consigo levar

Essa minha vida em frente

Levando comigo ainda

As penas de tanta gente

Eu acabo tendo raiva

Da sorte que me condena

A ter coração que sente

A ter olhos que pranteiam

A ter a boca que grita

A ter nervos que inda anseiam

Pelo bem meu e de tantos

Pena dos que me rodeiam

Pelo bem meu e de tantos

Pena dos que me rodeiam

Que fique somente a raiva

Pra minha raiva ser pouca

E de ser tão curto o grito

Que escapa da minha boca

Que fique somente a raiva

Não tendo raiva somente

Dessa fraqueza que é minha

E ainda de tanta gente

Que fique somente a raiva

E a raiva me leve em frente




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