Vocês que fazem parte dessa massa Que passa nos projetos do futuro É duro tanto ter que caminhar E dar muito mais do que receber E ter que demonstrar sua coragem À margem do que possa parecer E ver que toda essa engrenagem Já sente a ferrugem lhe comer
Êh, oô, vida de gado Povo marcado Êh, povo feliz!
Lá fora faz um tempo confortável A vigilância cuida do normal Os automóveis ouvem a notícia Os homens a publicam no jornal E correm através da madrugada A única velhice que chegou Demoram-se na beira da estrada E passam a contar o que sobrou
Êh, oô, vida de gado Povo marcado Êh, povo feliz!
O povo foge da ignorância Apesar de viver tão perto dela E sonham com melhores tempos idos Contemplam esta vida numa cela Esperam nova possibilidade De verem esse mundo se acabar A arca de Noé, o dirigível, Não voam, nem se pode flutuar
Êh, oô, vida de gado Povo marcado Êh, povo feliz!
Tá vendo aquele edifício, moço? Ajudei a levantar Foi um tempo de aflição Eram quatro condução Duas pra ir, duas pra voltar Hoje depois dele pronto Olho pra cima e fico tonto Mas me chega um cidadão E me diz desconfiado
Tu tá aí admirado Ou tá querendo roubar? Meu domingo tá perdido Vou pra casa entristecido Dá vontade de beber E pra aumentar o meu tédio Eu nem posso olhar pro prédio Que eu ajudei a fazer
Tá vendo aquele colégio, moço? Eu também trabalhei lá Lá eu quase me arrebento Pus a massa, fiz cimento Ajudei a rebocar Minha filha inocente Vem pra mim toda contente Pai, vou me matricular Mas me diz um cidadão Criança de pé no chão Aqui não pode estudar Esta dor doeu mais forte Por que que eu deixei o Norte Eu me pus a me dizer Lá a seca castigava
Mas o pouco que eu plantava Tinha direito a comer
Tá vendo aquela igreja, moço? Onde o padre diz amém Pus o sino e o badalo Enchi minha mão de calo Lá eu trabalhei também Lá sim valeu a pena Tem quermesse, tem novena E o padre me deixa entrar Foi lá que Cristo me disse Rapaz, deixe de tolice Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a Terra Enchi o rio, fiz a serra Não deixei nada faltar Hoje o homem criou asas E na maioria das casas Eu também não posso entrar
Autoras: Maria Martha e Isabel Maria. Intérprete: Maria Martha. Gravadora: RCA Victor. LP: Meu romance.
Eu acabo tendo raiva
Das coisas que causam pena
E penas já tenho tantas
Das que são minhas somente
Eu não consigo levar
Essa minha vida em frente
Levando comigo ainda
As penas de tanta gente
E eu não consigo levar
Essa minha vida em frente
Levando comigo ainda
As penas de tanta gente
Eu acabo tendo raiva
Da sorte que me condena
A ter coração que sente
A ter olhos que pranteiam
A ter a boca que grita
A ter nervos que inda anseiam
Pelo bem meu e de tantos
Pena dos que me rodeiam
Pelo bem meu e de tantos
Pena dos que me rodeiam
Que fique somente a raiva
Pra minha raiva ser pouca
E de ser tão curto o grito
Que escapa da minha boca
Que fique somente a raiva
Não tendo raiva somente
Dessa fraqueza que é minha
E ainda de tanta gente
Que fique somente a raiva
E a raiva me leve em frente