10.Estamos no século das luzes-vol.00-cap02-10
Letra: A. F. Castro Leal. Música: Boaventura Fernandes do Couto. Intérprete: Tereza Pineschi. Gravadora: Por do Som. CD: “O teu gramofone é bão”.
Estamos no século das luzes
Já não há que duvidar;
Temos gás por toda a parte
Para nos alumiar
A, E, I, O, U,
Já não custa aprender,
Já se ensina de repente
Sem as letras conhecer.
Temos estradas de ferro
Para mais depressa andar,
Todos hão de correr tanto
Que por fim hão de cansar.
Ba, be, bi, bo, bu, etc
Já com novo calçamento
Vejo as ruas se calçar;
De fino sapato e meia
Já se pode passear.
Ça, ce, ci, ço, çu, etc.
Já se alargam bem as ruas,
A do Carmo é a primeira;
Hoje tudo são progressos
Da famosa ladroeira.
Da, de, di, do, du, etc.
Água suja, cisco e tudo
Já se não deve ajuntar;
É só lançar-se nas ruas
Que as carroças vêm buscar.
Fa, fe, fi, fo, fu, etc.
Já se seguram as vidas,
Já se não deve morrer;
Quem tem sua creoulinha
Não tem medo de a perder.
Ga, gue, gui, go, gu, etc,
Temos água pelos cantos,
Que sempre estão a correr;
E sujo por falta de água
Ninguém mais deve morrer.
Ja, je, ji, jo, ju, etc.
Já temos grandes teatros,
E a empresa quer crescer;
Estamos – num céu aberto,
Isso sim, é que é viver.
La, le, li, Io, lu, etc.
Quando há fogo na cidade
São Francisco dá o aviso;
O Castelo corresponde
Com três tiros do Gabizo.
Ma, me, mi, mo, mu, etc.
Os estrangeiros s'empregam
Nessa nova exploração;
Nada tendo de fortuna
Vem ganhar um dinheirão.
Na, ne, ni, no, nu, etc.
Nacionais de boca aberta
Nada tendo que comer,
Vivem como o boi de canga
Caladinho até morrer.
Pa, pe, pi, po, pu, etc.
Com a carestia dos gêneros,
Como o pobre há de viver?
Com tão pequeno salário
Como honrado pode ser?
Ra, re, ri, ro, ru, etc.
Os poderosos não querem
Co'a pobreza s'importar;
O pobre cheira a defunto
Pois só sabe importunar.
Sa, se, si, so, su, etc.
Eis o que é o país natal
Dos filhos que viu nascer;
Qualquer estrangeiro à toa
Vem aqui enriquecer.
Ta, te, ti, to, tu, etc.
Já temos por felicidade,
Melhor colonização;
Felizmente se acabou
A negra especulação.
Va, ve, vi, vo, vu, etc.
Os transportes são imensos,
Quer por terra, quer por mar;
Até se pode seguro
Já navegar pelo ar.
Xa, xe, xi, xo, xu, etc
Enfim ninguém já duvida
De tamanha perfeição;
Que não ha século como este
De maior ilustração.
Za, ze, zi, zo, zu, etc.
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