11.Já não há trocos miúdos-vol.00-cap02-11
Letra da paródia: Gualberto Peçanha. Música (“Estamos no século das luzes”): Boaventura Fernandes do Couto. Intérprete: João Nabuco (violão e canto). Gravação independente.
Já não há trocos miúdos
Nesta nossa capital,
Os cambistas são os grandes
Nesta época fatal.
Os pobres é que se veem
Em assados e apuros,
Pois desejando miúdos
Hão de pagar grandes juros.
Um gasto de três mil réis
Não é nada, ainda é pouco,
Pra uma nota de dez
Dizem logo: – Não há troco.
Até nas casas de pasto
As listas têm um letreiro,
Dizendo que pra comer
Levem trocado dinheiro.
Já se vê pelas vidraças
Letreiros sobre papéis
Dizendo não haver troco
Mesmo pra cinco mil réis.
De maneira que o pobre
Mesmo tendo algum dinheiro,
Não trazendo os tais miúdos
Passará por caloteiro.
Correm anúncios com letras
De palmo de comprimento
Dizendo que os tais miúdos
Vendem a doze por cento.
E não sabemos até onde
Tudo isso vai parar,
O certo é que o pobre
Há de sofrer e calar.
Houve há pouco uma assembleia
Já se sabe, de graúdos,
Para ver se decidiam
A questão dos tais miúdos.
Ainda agora se espera
Pela tal resolução
Não admira pois tudo
É assim nesta nação.
As cousas estão mudadas
Já se despreza os graúdos,
Pois agora só imperam
Como é sabido, os miúdos.
E quem há de nos valer
Em momento tão sinistro?
Ah! Já sei, corramos todos
Ao palácio do ministro.
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