33.Não conheço esquerdista que não mude quando pega nas rédeas do poder-v3-cap-10-m33
Autores: Ivanildo Vilanova. Intérprete: Idem. Gravadora: Pentagrama. CD: “Improvisos do Brasil” (sem data).
Radical se transforma em moderado
Se quiser jogar bem no outro time
Ou acopla-se aos moldes do regime
Ou por outro é deposto ou é cassado
Quando não, ele fica deslumbrado
Com mulheres, passeios e prazer
Mordomia, jetom, luxo e lazer
Tudo isso é efêmero, mas ilude
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder
Um ministro, um prefeito, um deputado
Com direito a chofer e secretária
Segurança, assessor, estagiária,
Gabinete com ar condicionado
Vai lembrar-se do proletariado
Com favela e cortiço pra viver
Ou será que não vai se aborrecer
Com esgoto, favela, morro e grude
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder
É o mártir que tem convicção
De arriscar sua vida e seu emprego
A família, o futuro e o sossego
Por um povo, um projeto, uma nação
Um Sandino tentou, mas foi em vão
Um Guevara esforçou-se por fazer
Hoje em dia é difícil aparecer
Marighela, Lamarca ou Robin Hood
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder
Que fará um sujeito agitador
Boia-fria, sem terra, piqueteiro
Camarada, comuna, companheiro
Se um dia tornar-se senador
Vindo até a se eleger governador
Qual será o seu novo proceder
Vai mudar, vai mentir ou vai manter
As promessas que fez de forma rude?
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder
Quem tem honra da mesma não se aparta
É querer liberdade para o Nordeste
É Xanana Gusmão do Timor Leste
Enfrentando os exércitos de Jacarta
Boutros Gali primando pela Carta
Que o Pentágono queria prescrever
É qualquer Palestina combater
Um Netanyahu ou um Ehud
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder
No período que o adolescente
Quer mudar o planeta e o país
Através dos arroubos juvenis
Vira líder e orador e dirigente
Mas se um dia ele sendo Presidente
O que foi nunca mais poderá ser
Aí diz que o remédio é esquecer
As loucuras que fez na juventude
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder
Todo jovem a princípio é sectário
Atuante, grevista, condutor
Exaltado, anti-ianque, pregador
Um perfeito revolucionário
Cresce, casa-se, se torna secretário
E aí o que trata de fazer:
Leva logo a família a conhecer
A Disneylândia, Washington e Hollywood
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder
Quem vivia de luta e de vigília
Invasão, pichamento e barricada
Através disso aí fez uma escada
Pra chegar aos tapetes de Brasília
Vai pensar no progresso da família
E o que faz para do posto não descer
Nunca falta quem queira se vender
E sempre acha um covarde que lhe ajude
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder
Dirigido não é o dirigente
Dominante não é o dominado
Se quem vive debaixo é revoltado
Quando sobe ele fica diferente
Compreendo a fraqueza dessa gente
Submissa ao desejo de vencer
Eu também poderei me corromper
Quem sou eu para ser dono da virtude?
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder
Eu já vi muita gente amarelar
Por pressão covardia ou por dinheiro
Jornalista, cantor e violeiro
Metalúrgico, político e militar
Só Luiz Carlos Prestes foi sem par
Defendeu sua tese até morrer
E Gregório Bezerra sem temer
Levou seus ideais ao ataúde
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder
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