top of page
Post

47.Matemática na prática-v3-cap-10-m47

47. “Matemática na prática (1998)”.

Autor: GOG. Intérpretes: GOG e Japão. Gravadora: Só Balanço. CD: Das trevas à luz.

Do fundão da Ceilândia


Mais precisamente da Expansão do Setor O


Onde tiros, tiras, pó


Misturados dão um problema só


É de onde veio seu irmão Japão


Acreditando que a mente é a mais farta munição


Reféns da miséria, não


Essa sina pro meu povo, não (então)


Injustiças, ira, meu sangue sobe


Dia a dia esse jogo não há quem não jogue


Dino Black Mano Mix toca discos


Completando o time meu chegado GOG


Haha, acionaram de novo o gatilho


E o barulho ouvido deixou um pai sem seu filho


Ou um filho sem pai


A ordem dos fatores aqui tanto faz


Matemática na prática


Subtração feita de forma trágica


Onde a divisão é o resultado


E a adição são os problemas multiplicados


Conduzindo um ao cemitério, outro ao submundo


Minha voz é forte, sincera


Minha casa minha quebra considerada Riacho Fundo

GOG, chega ai sou da Ceí

E eu Riacho Fundo enfim


Todos da periferia juntos


Moleque, eu disse juntos


É serio

Todas as noite quando acordo olho o telhado do barraco


E junto as orações que faço


Imagino se o futuro fosse hoje

Seria complicado


Muito complicado


Minha mulher na beira do fogão, só cansaço


Meu filho, um moleque sem espaço


Eu a um passo do fracasso


Com um salário que se colocado no papel (ladrão)


Mal daria a cesta básica e o aluguel


Causa arrepios


Tudo isto é uma cadeia, uma grande teia, prepara a fuga


Sou meu próprio carcereiro e a chave minha conduta


Caneta e papel na mão sai o rascunho


O raciocínio comanda meu punho


Cenas fortes, sem cortes, sou testemunho


A matemática na prática é sádica


Reduziu meu povo a um zero à esquerda, mais nada


Uma equação complicada
onde a igualdade é desprezada

(A seguir cenas que nada tem a ver com conto de fadas)

Seu pai faxineiro lava banheiros


Salário mais gorjeta de terceiros


De quebra faz um bico revendendo jogos


Feitos numa lotérica


Sua mãe com mais de sessenta


Ainda trabalha de doméstica


E assim se completa a renda da família


Dois salários mais gorjeta, bico, aposentadoria


Somando tudo dá a certeza de lutar por melhores dias


É, sua velha anda cansada


A perna inchada cheia de varizes


Que dificultam a circulação sanguínea


Um braço forte lava, passa


Há mais de quinze anos sem carteira assinada


Alegria da criançada


Cozinha que é uma maravilha


Na casa do patrão, ela é a Dona Maria


Até hoje esquecem o nome dela


E Maria é como eles chamam a maioria

Uma velha que traz no coração duas feridas


Um filho aprontando e uma filha trabalhando


Em um puteiro de quinta categoria


Periferia é periferia


Relatos dramáticos, desejos trágicos


Meios violentos os mais usados


E o tão sonhado 100 por cento longe de se atingido


Traduzindo, eu disse traduzindo


Ontem pipocaram seu vizinho, roubaram sua mãe


Cena digna de cinema, desafio a lógica


O corpo ali, ham,
sua velha sem poder reagir


Parecia querer desistir, mas filhos, netos


A fizeram prosseguir, já disse, vou repetir


Cara, acorda, olha nosso povo aqui


Nessa UTI


Louco pra sobreviver precisando de você, hein


Cadê você


Só bebe, fuma, injeta, não conversa


Qualquer ingrisia aperta


Apertou jogou deixou pra você tudo certo


A vida do outro na sua mão um objeto, e aí?


Mude seu conceito do que é ser esperto

Eram três pretos de favela nessa porra


Agora quatro

Se liga malandro no som pesado

Eram três pretos de favela, meu cumpadi

Agora quatro

Eram três pretos, meu cumpadi de favela


Agora quatro

Se liga malandro no som pesado

Eram três pretos de favela nessa porra


Agora quatro (4x)



bottom of page