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69.Cálice-v2-cap07-m69

Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga? Tragar a dor, engolir a labuta? Mesmo calada a boca, resta o peito Silêncio na cidade não se escuta

De que me vale ser filho da santa? Melhor seria ser filho da outra Outra realidade menos morta Tanta mentira tanta força bruta

Pai, afasta de mim este cálice ...

Como é difícil acordar calado Se na calada da noite eu me dano Deixa eu lançar um grito desumano Que é uma maneira de ser escutado

Esse silêncio todo me atordoa Atordoado eu permaneço atento Na arquibancada pra qualquer momento Ver emergir o monstro da lagoa

Pai, afasta de mim este cálice ...

De muito gorda a porca já não anda De muito usada a faca já não corta Como é difícil, pai, abrir a porta Essa palavra presa na garganta

Esse pileque homérico no mundo De que adianta ter boa vontade Mesmo calado o peito resta a cuca Dos bêbados do centro da cidade

Pai, afasta de mim este cálice ...

Talvez o mundo não seja pequeno Nem seja a vida um fato consumado Quero inventar o meu próprio pecado Quero morrer do meu próprio veneno

Quero perder de vez tua cabeça Minha cabeça perder teu juízo Quero cheirar fumaça de óleo diesel Me embriagar até que alguém me esqueça




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