Autores: MC Cidinho e MC Doca. Intérpretes: Idem. Gravadora: Riserev/Vidisco. CD: Rap das Armas (2008)
Fé em Deus
Eu só quero entrar na minha casa, seu moço
Ter o direito de ir e vir
Dar um beijo nas crianças
Beijar minha patroa
Ter o pão de cada dia, eu só quero é ser feliz
Essa noite comeu solto o tiroteio
Favela tava cercada, não tinha como sair
E a criançada atrás da porta em desespero
Pelo amor de Deus, papai tira a gente daqui
Aí então, uma lágrima desceu
Eu vi que minha força vinha da força de Deus
Só peço ao moço antes de apertar o gatilho
Que pense em seus filhos antes de matar os meus
Eu só quero entrar na minha casa, seu moço ...
É triste amigo a gente chegar do trabalho
E ser esculachado por um motivo que eu não sei
O rico sente pena, mas sentir pena é fácil
Ninguém passou na pele a humilhação que passei
E aos poderosos eu lanço um desafio
Viver um dia de pobre e o pobre um dia de rei
Mas eu só peço a aquele moço por favor
Antes de bater na cara, respeite o trabalhador
Eu só quero entrar na minha casa, seu moço ...
E aquela praça onde a violência
Acabava com a festa na minha adolescência
Muita coisa mudou, mas eu posso te contar
Hoje são meus filhos que não podem lá brincar
Pois a metralhadora ainda interrompe
Ameaça jovem, velho, criança, mulher e homem
O problema que era deles, passa a ser problema meu
Ter que aturar uns caras que nem sabem quem sou eu
Eu só quero entrar na minha casa, seu moço ...
Política
Nossa vida mais e mais ficando crítica Basta olhar que você vê que a vida cívica Deteriora tanto quanto a coisa pública Quanto choro, quanta fome, quanta súplica Quanto nojo de saber que gente estúpida De mamatas vão vivendo na República
Chegou lá sem declarar riqueza pública
Joga o jogo de enganar postura física De enganar figura lá postura cênica Vem política estúpida e anêmica Vem política raquítica, cínica Choque vai, vem inflação de forma cíclica Nem precisa consultar a estatística Pois de fato a gente sente a vida rústica Que não há como mudar o tom da música Pois vai mudar, vai melhorar, vai ficar nítida Sua alegria de viver será explícita Nos palanques bem montados, boa acústica São patéticas as promessas de política
De política em política
De política em política
De política em política
De política em política
Essa política gerando gente cínica O povo mais cada vez ficando cético Gabiru será um dia milimétrico São escândalos, processos quilométricos São sequestros, falcatruas sem inquéritos Ser parente se promove pelo mérito Superfaturada a compra, coisa lícita Divulgado o resultado da balística Só se tinha um tiro certo para o encéfalo Deram dois na inflação, efeito ínfimo Galopante volta a fera, segue o ritmo Qual doença degradando o corpo aidético Então o político declara ser o médico Diagnostica que a cura é pelo empréstimo Com certeza vai querer morder o dízimo E ao problema ele receita um analgésico E toda verba vai pro bolso dos corruptos E todo o povo ajoelhado ante o púlpito Ora a Deus, pede luz para o facínora Encarnado na figura do publícola
De política em política
De política em política
De política em política
De política em política
Avanço no futuro, cibernética Com videogame, disc laser, informática Mili-dados vão na fita magnética E essa política atrasando o sul da América Demagogia se tornando vida prática Recessão na economia mais estática A gente não sabemos nem uma gramática E na saúde como a coisa está dramática Se ganho vinte: noves fora, matemática Lá vai imposto numa construção lunática
Teve debate na TV, caiu na sátira Lobbies lobos lambem lá de forma sádica Outros bobos querem resolver na mágica Alguns acharam a solução compondo máximas Outros já preferem agir de forma tácita E tudo vai se aprofundando na retórica E de política o povo está com cólicas E vai levando na sua vidinha módica Quando o que dá risadas, sente cócegas Do salário de miséria, coisa cômica
Parlamentarismo, monarquia ou república Muda o nome e terão todos forma única Se não se mudar a mentalidade lúdica O modo de encarar a coisa pública Enquanto isso a esperança mais um brícola Secando a roupa no varal ainda úmida Sol batendo numa gota d'água fúlgida Que será de nós e de nosso habitat Sujando as mãos nós limparemos a política A inflação é consequência desse cólera E todo mal que nos assola é uma alíquota Cujo montante principal é a política Essa política sem lógica, sem nexo Essa política do próprio paradoxo Essa política larica mais que tóxico Essa política do fight bem no plexo Essa política que não respeita sexo Essa política perdida em circunflexo Essa política mentiras em anexo Essa política do choque heterodoxo
De política em política,
De política em política,
De política em política,
De política em política
Apenas um menino
Tateando no escuro
Seu futuro já se previa cruel
A realidade sempre faz o seu papel
Um menino e sua vida abandonada, largada
Nada mais a dizer, página virada
Se liga na ideia então
Ele já não mais um menino
Mas um jovem mau
Marca na dele que ele senta o dedo
Conhece os becos, bocas, guetos
Pontos de disputa e vai à luta
Já que não tem nada a perder
Pois o que tinha perdeu
Sua mãe sumiu
E nada aconteceu pra sua vida
Não ser marginalizada
E ficam discutindo sobre o que fazer
Pô, mas o menino que agora cresceu
Revoltado, o coração em chamas
Ódio, pensamento, vingança
Só se vê criança por aí
É só mais um outro
Bebê a bordo, mala sem alça
Saco de osso, fosso no poço
Mas que bonitinho
Como aconteceu?
Choraria lágrimas de sangue
Mas problema seu
Mas agora ele é o crime
Compaixão o caralho
Marca na minha, velho
Piolhagem é mato
Pago um sapo é ripa e pinote
Sem segredo, sento o dedo e vai
Com a sua sorte, sangue B
Levando a boa, um grito ainda ecoa
Tarde demais, já penetrou o canto escuro
Jaz
Drogas, crimes, trinta e oito à mão
Profissão ladrão (4 x)
Lá no pote o bicho pega
E ele esteve lá
Caguetado, foi trancado
E teve mau comportamento
Mas saiu lá de dentro um H
Na confusão, na queima de colchão
Camarão que dorme a onda leva
Tava solto e voltaria pra guerra
Levando a essa sociedade sua educação
Seu canudo assinado pela vida nua
Seu boletim com média dez
De frequência na rua, ladrão
Porque ladrão é a profissão que me dignifica
No seio da malandragem levo a vida rica
Com pó e mulher, nunca fico só
Às vezes na deprê fica triste e chora
Mas ali ninguém se atreve a lhe dizer o que fazer
O que é feio, o esgoto, o arroto, o aborto
O que é feio, por pra fora a sua emoção
A fim de aliviar a dor que traz a infância no seu coração
Acompanhado está, mas brilha nos seus olhos sua solidão
Sua escuridão, sua podridão, sua imensidão
O sistemão bota a sua matilha na vida
A presa foge carregando a ferida
A cicatriz a presa usa pra se revoltar
E desferir a mordida maluco
No pai......
Ele não tem escrúpulos
É um homem mau
A morte é amiga sua
Tem que sobreviver
Com um dedo ele a deixa nua
E se tornou até prazer
A revolta por ele atua
A vida lhe ensinou assim
Filho da rua ... da puta
Um homem mau
Ah! Vai se foder, caralho
Segura a onda vai
Tivesse igual infância carente na mão
Não agiria diferente, você não?
Se você tivesse na minha, filho
Segura, queria ver se você tivesse na minha
Mas sua infância foi amada
Felizmente, man
Ou seria mais um?
E página virada
É o que você pensa, né
Drogas, crimes, trinta e oito à mão
Profissão ladrão (4x)
E ficam discutindo sobre o que fazer
Com mais um menino que agora cresceu
E ficam liquidando, ficam exterminando
Antes o menino mas agora cresceu (2x)
Ladrão, Ladrão
Drogas, crimes, trinta e oito à mão
Profissão ladrão