Seu doutô, os nordestino têm muita gratidão
Pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão
Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão
É por isso que pidimo proteção a vosmicê
Home pur nóis escoído para as rédias do pudê
Pois, doutô, dos vinte estado temos oito sem chovê
Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem cumê
Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage
Dê cumida a preço bão, não esqueça a açudage
Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage
Lhe pagamo inté os juru, sem gastar nossa corage
Se o doutô fizer assim, salva o povo do sertão
Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra nação!
Nunca mais nóis pensa em seca, vai dá tudo nesse chão
Como vê nossos distino mecê tem na vossa mão.
As famílias tão fugindo do sertão
E os doutor não querem ver
As famílias tão morrendo no sertão
Por não terem o que comer (bis)
É de dar pena seu moço
Ver um povo assim sofrer
A seca, seu mano, é um osso
Muito duro de roer
Eu daqui faço um pedido
Através do meu baião
Aos douto, ômi intendido,
Olhai essa gente boa
Nascida no meu sertão
Não deixa essa pobre gente
Passar fome no braseiro
Pois quem nasce no Nordeste
Também nasce brasileiro
E o brasileiro, seu mano,
Sempre teve coração
Nunca deixou na desgraça
Outro brasileiro irmão
Passando fome e miséria
Padecendo no sertão
Morrendo pelas estradas
Sem nenhuma proteção
Não, não, não, não.
Tendo o sordado perdido a parada
Pegou logo na pena e escreveu para o anspeçada
O anspeçada, que é homem do diabo,
Pegou logo na pena e escreveu para o seu cabo
O seu cabo que é homem do momento
Pegou logo na pena e escreveu para o sargento
O sargento, que é homem renitente
Pegou logo na pena e escreveu para o Tenente
O tenente, que é homem valentão
Pegou logo na pena e escreveu pro capitão
O capitão do Estado-Maior
Pegou logo na pena e escreveu para o major
O major, que é amargo como fer
Pegou logo na pena e escreveu pro coroner
O coroner, que é homem geniar
Pegou logo na pena e escreveu pro generar
O generar, que é homem sem iguar
Pegou logo na pena e escreveu pro marechar
O marechar, que não gosta de embrulho
Pegou logo na pena e escreveu para o Getúlio
O Getúlio que é homem ativo
Pegou na papelada e mandou para o arquivo.
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(1) Na versão de Eduardo das Neves, a letra é a seguinte: “O soldado que perdeu sua parada / Pegou na pena e escreveu ao anspeçada / E o anspeçada, como homem do diabo / Pegou na pena e escreveu para o cabo / E o cabo pegou logo no papel / Pegou também a pena e escreveu ao furriel / O furriel, como homem de momento / Pegou na pena e escreveu para o sargento / E o sargento que não quer saber de nada / Pegou também na pena e escreveu para o brigada / Diz o brigada seja tudo como queres / Pegou na pena e escreveu ao seu alferes / O senhor alferes no mesmo repente / Pegou na pena e escreveu para o tenente / E o tenente, para honrar o seu galão / Pegou na pena e escreveu ao capitão / E o capitão no estado maior / Pegou na pena e escreveu para o major / E o major como estava no quartel / Pegou na pena e escreveu ao coronel / E o coronel como homem de valor / Pegou na pena e escreveu ao imperador / E o imperador lá do trono, no entanto / Pegou na pena e escreveu ao pai de santo / Pai de santo quis logo dar cabo / Pegou na pena e escreveu para o diabo / O diabo que é melhor que (...........) / Pegou na pena e escreveu para a sogra / A sogra quis logo dar cabo / Se embrulhou-se com o diabo / E o diabo não quis a função / Pegou em tudo e meteu num caldeirão / Mexeu bem mexido e comeu com pirão”.
