Autores: Almir de Araújo, Marquinhos Lessa, Hércules Corrêa, Balinha, Carlinhos de Pilares. Intérprete: Caprichosos de Pilares. Gravadora: Top Tape. LP: Samba Enredo das Escolas de samba do grupo 1A do Rio de Janeiro – Carnaval 1985.
Tem bumbum de fora pra chuchu Qualquer dia é todo mundo nu
Oh! Saudade, ô Meu carnaval é você Caprichosamente Vamos reviver, vamos reviver “Saudadeando” o que sumiu no dia-a-dia Na fantasia de um eterno folião O bonde O amolador de facas O leite sem água A gasolina barata Aquela Seleção Nacional E derreteram a taça na maior cara-de-pau Bota, bota, bota fogo nisso A virgindade já levou sumiço (Quero votar!) Diretamente, o povo escolhia o presidente Se comia mais feijão Vovó botava a poupança no colchão Hoje está tudo mudado Tem muita gente no lugar errado Onde andam vocês, ô ô ô Antigos carnavais? Os sambistas imortais Bordados de poesias Velhos tempos que não voltam mais E no progresso da folia Tem bumbum de fora pra chuchu Qualquer dia é todo mundo nu
(Acho que foi num dia de São João Batista que conheci Deusdéti Nesse tempo eu já era marquexista e ela ainda ia em discotéque Tentei de tudo, até lavagem cerebrár, meu saco tá que não guenta Mas nem o Pinochet é tão radicar. Êta, muiézinha lazarenta! Iguar Deusdéti, juro por Deus, não existe A marvada só lê Capricho e livro da Agatha Cristie Além do mais é metida a grã-fina, adora homem com fedor de gasolina
Que sina, que sina, Em veis de ela estudá os pobrema da guerrilha urbana Só quer saber de escutar música americana estrambólica Também, a mãe é da Liga das Senhoras Católicas E o bode véio do pai é da Opus Dei Não sei, não sei Como é que eu vou sair dessa enrascada Só se eu pegar o pai e mãe da danada e fazer papér de fachistão: Vendar os óios e carcá fogo num paredão Só que eu tô ficando cheio de fole, virando um caboclo de coração mole No lugar de apoiar a luta armada, fico fazendo verso pra namorada Mas pra encurtar o causo, que nóis aqui temo prazo
Pra terminar, vamo cantar.)
Se o nosso amor for logo, logo pras cucuia A curpa é tua, Deusdéti Enquanto eu falo o tempo todo em Che Guevara Ocê frequenta o Ta Matete
Se o meu partido desconfiar qu’eu te namoro, virge, porca miséria Vamo passar toda nossa lua-de-mel quebrando gelo na Sibéria Não pude, não pude Não pude ir jantar com você no Maquesude Ocê só pensa em champanhe, caviar e noutros produtos chiques Esquece sempre que o seu futuro noivo é do Partido Bolchevique Tem certos dias que me dá um nó na garganta Daqueles bem morfético Porque você rejeita o materialismo dialético Não pude, não pude Não pude ir jantar com você no Maquesude
Na virada do século Alvorada voraz Nos aguardam exércitos Que nos guardam da paz Que paz?
A face do mal Um grito de horror Um fato normal Um êxtase de dor E medo de tudo Medo do nada Medo da vida Assim engatilhada
Fardas e força Forjam as armações Farsas e jogos Armas de fogo Um corte exposto Em seu rosto, amor
E eu Nesse mundo assim Vendo esse filme passar Assistindo ao fim Vendo o meu tempo passar
Apocalipticamente Como um clipe de ação Um clique seco, um revólver Aponta em meu coração
O caso Morel O crime da mala Coroa-Brastel O escândalo das joias E o contrabando E um bando de gente Importante envolvida
Juram que não Torturam ninguém Agem assim Pro seu próprio bem
São tão legais Foras da lei Sabem de tudo O que eu não sei Não!
Nesse mundo assim Vendo esse filme passar Assistindo ao fim Vendo o meu tempo passar