Autor: Sérgio Ricardo. Intérprete: Sérgio Ricardo. Gravadora: Continental. LP: Piri, Fred, Cássio, Franklin e Paulinho de Camafeu com Sérgio Ricardo (1973).
Olho aberto, ouvido atento E a cabeça no lugar Cala a boca moço, cala a boca moço Do canto da boca escorre Metade do meu cantar Cala a boca moço, cala a boca moço Eis o lixo do meu canto Que é permitido escutar Cala a boca moço. Fala!
Olha o vazio nas almas Olha um violeiro de alma vazia
Cerradas portas do mundo Cala a boca moço E decepada a canção Cala a boca moço Metade com sete chaves Cala a boca moço Nas grades do meu porão Cala a boca moço A outra se gangrenando Cala a boca moço Na chaga do meu refrão
Cala a boca moço Cala o peito, cala o beiço Calabouço, calabouço
Olha o vazio nas almas ...
Mulata mula mulambo Milícia morte e mourão Cala a boca moço, cala a boca moço Onde amarro a meia espera Cercada de assombração Cala a boca moço, cala a boca moço Seu meio corpo apoiado Na muleta da canção Cala a boca moço. Fala!
Olha o vazio nas almas ...
Meia dor, meia alegria
Cala a boca moço Nem rosa nem flor, botão Cala a boca moço Meio pavor, meia euforia Cala a boca moço Meia cama, meio caixão Cala a boca moço Da cana caiana eu canto Cala a boca moço Só o bagaço da canção Cala a boca moço Cala o peito, cala o beiço Calabouço, calabouço
Olha o vazio nas almas ...
As paredes de um inseto Me vestem como a um cabide Cala a boca moço, cala a boca moço E na lama de seu corpo Vou por onde ele decide Cala a boca moço, cala a boca moço Metade se esverdeando No limbo do meu revide Cala o boca moço. Fala!
Olha o vazio nas almas ...
Quem canta traz um motivo
Cala a boca moço Que se explica no cantar Cala a boca moço Meu canto é filho de Aquiles Cala a boca moço Também tem seu calcanhar Cala a boca moço Por isso o verso é a bílis Cala a boca moço Do que eu queria explicar Cala a boca moço Cala o peito, cala o beiço Calabouço, calabouço
Olha o vazio nas almas ...
Autores: Milton Nascimento e Ronaldo Bastos. Intérprete: Milton Nascimento. Gravadora: Odeon. LP: Geraes (1976).
Quem cala sobre teu corpo Consente na tua morte Talhada a ferro e fogo Nas profundezas do corte Que a bala riscou no peito Quem cala morre contigo Mais morto que estás agora Relógio no chão da praça Batendo, avisando a hora Que a raiva traçou No incêndio repetido O brilho do teu cabelo
Quem grita vive contigo.
Vamos passear na floresta escondida, meu amor
Vamos passear na avenida
Vamos passear nas veredas, no alto, meu amor
Há uma cordilheira sob o asfalto
(Os clarins da banda militar…)
A Estação Primeira de Mangueira passa em ruas largas
(Os clarins da banda militar…)
Passa por debaixo da Avenida Presidente Vargas
(Os clarins da banda militar…)
Presidente Vargas, Presidente Vargas, Presidente Vargas
(Os clarins da banda militar…)
Vamos passear nos Estados Unidos do Brasil
Vamos passear escondidos
Vamos desfilar pela rua onde Mangueira passou
Vamos por debaixo das ruas
(Os clarins da banda militar…)
Debaixo das bombas, das bandeiras
(Os clarins da banda militar…)
Debaixo das botas
(Os clarins da banda militar…)
Debaixo das rosas, dos jardins
(Os clarins da banda militar…)
Debaixo da lama
(Os clarins da banda militar…)
Debaixo da cama
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(1) O estribilho é também uma citação musical de Dora, de Dorival Caymmi, de 1945: “Os clarins da banda militar/ Tocam para anunciar/ Sua Dora agora vai passar/ Venham ver o que é bom”.