O nosso tempo tá ruim
Em tudo eu não acho jeito
Sempre mudar de governo,
Sempre mudar de prefeito
É coisa que eu não compreendo
E eu não posso achar direito, aaai
Foi depois da Monarquia
Que houve complicação
Agora com a República
Tudo vai por votação
E a gente que não vota
Diz que não é cidadão, aaai
Todas as coisas ficou caro
Bem depressa, num instante
Alembro e tenho sôdade
Daquele tempo de dante
Eu tinha quatro vintém
Mas valia que nem diamante, aaai
Eu pegava em dez mil-reis
E surtia a minha casa
Pagava tudo vendeiro
E nada eu atrasava
Quando era fim da semana
Mantimento sobejava, aaai
Hoje eu pego em vinte mil-réis
Vou na vila, fico besta
Eu gasto tudo os meus vinte
A compra cabe na cesta
Não sobra nem dez tostão
Pra mim comprar uma chupeta, aaai
Pois olha, minha mulher,
Vim pensando pelo caminho
Pra comprar a mamadeira
Não sobrou nem um pouquinho
Dê de mamar pro pequeno
Agrade o nosso filhinho, aaai
Mulher passa a preguntar
Se eu ouvi falar da eleição
E eu passo a contar
Tá feia a situação
O Vargas disse que ganha
Eu não sei se ganha ou não, aaai
Pois olha minha mulher
Na vila a coisa tá feia
Se falar mal do governo
Põe a gente na cadeia
E depois da carceragem
Não se tem pataca e meia, aaai.
Olha o pingo, sinhá, olha o pingo, sinhá,
Olha o pingo, pega o laço pra laçar (bis)
Foi inda ontem
Que lá de Belo Horizonte
Seu Toninho Anacreonte
Me chamou pra governar
Todo acanhado
Respondi: “Tá combinado,
Que daqui mais um bocado
No Catete vou morar”
Olha o pingo, sinhá, olha o pingo, sinhá,
Olha o pingo, pega o laço pra laçar (bis)
Servi à beça
Pra ser deputado avessa.
Que eu já tinha uma promessa
Com o compadre Roxingtão
Então por isso
De quebrar um compromisso
Houve bruto rebuliço
Que eu inté fiquei na mão
Olha o pingo, sinhá, olha o pingo, sinhá,
Olha o pingo, pega o laço pra laçar
Eu tava atente
Que pra “serse” presidente
Era só ficar contente
E esperar as eleição
Mas não é sopa
É preciso boas rôpas
Viajar pulas Óropas
Pra servir sua nação
Olha o pingo, sinhá, olha o pingo, sinhá,
Olha o pingo, pega o laço pra laçar
Mas seu Toninho
Me deixou aqui sozinho
Vou lutar com seu Julinho
Que é caboclo valentão.
Dos otro estados
Que ficaram indignados
Um ficou do nosso lado Mas o resto num qué, não
Olha o pingo, sinhá, olha o pingo, sinhá,
Olha o pingo, pega o laço pra laçar
Lá vai eu agora
Sem dormir horas e horas
Sem saber se vô simbora
Ou se fico aqui à toa
Ele se esconde
Já desarriô do bonde
Vai fugí num sei prá onde
Com um tá de João Pessoa
Olha o pingo, sinhá, olha o pingo, sinhá,
Olha o pingo, pega o laço pra laçar
Cumpadre Virgílio,
Tô ficando burrecido
E inté desiludido
Com tanta desilusão
Mas não é Júlio
Que eu não quero ser Getúlio
Escapando desse embrulho
Nunca mais vou no arrastão
Olha o pingo, sinhá, olha o pingo, sinhá,
Olha o pingo, pega o laço pra laçar.
Dia 1o de março, dia de barulhão,
Pois no Brasil inteiro foi dia de eleição
Pra escolher o presidente da Federação
Correu tudo direito, sem atrapalhação.
Tinha dois candidatos pro governo da União
Candidato do governo, candidato da oposição
Quarqué deles merecia, são dois bons cidadão
É a força do eleitorado que faz a contação.
Três estado do Brasil fizeram combinação
Da Aliança Liberá fizeram um galardão
E o Antonio Carlos prometeu um milhão
Houve grande diferença quando foi na apuração.
Júlio Prestes ganhou à força da votação
Querem colocá o Getúlio com a revolução
Mas o que o povo quer é um governo bão
É que acabe com a crise e melhore a situação.
O que eu não achei bonito, parece uma traição
Não sei se eu falo certo ou se falo sem razão
Um chefe liberá depressa deu a mão
Pro pessoá do governo, como quem pede perdão.
Júlio Prestes de Albuquerque, homem de bom coração,
Lá no Rio de Janeiro na primeira ocasião
Decrete anistia sem nenhuma restrição
Com paz e harmonia governe a Nação.