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Acervo/blog

Faz três semana Tô cumendo só banana Porque não arranjo a grana Nem ao menos prá almoçá O que eu tô vendo É que se não me defendo Vô acabá me comendo Prá pudê me alimentá Isso é despacho Nunca tive tão por baixo Que se eu não me agacho Vô morrê de inanição Eu me escangalho De pular de galho em galho Seu ministro do trabalho Não me dá colocação

Meu esqueleto Tá pió do que um graveto Eu já tô virando espeto Meus óio tão lá no fundo Num bruto treino De tomá café pequeno Quero vê se me enveneno Prá ir comê lá noutro mundo

Inda outro dia Fui até a galeria Só para vê se mordia O primeiro a aparecê Chegô a hora Eu quiz dizê, é agora Mas Vige Nossa Senhora Cadê jeito prá mordê

Tô cum vontade De deixá essa cidade Onde há tanta maldade Onde há tanto mordedô Mas ando teso E tamanho é o meu peso Que sô capaz de sê preso

Nomeado interventô.



Nós não vamos nos dispersar Juntos é tão bom saber Que passado o tormento Será nosso esse chão Água, dona da vida Ouve essa prece tão comovida Chega

Brinca na fonte Desce do monte Vem como amiga

Te quero água de beber

Um copo d’água Marola mansa da maré Mulher amada Te quero orvalho toda manhã Terra, olha essa terra Raça valente, gente sofrida Chama, Tem que ter feira Tem que ter festa Vamos pra vida Te quero terra pra plantar Te quero verde Te quero casa pra morar Te quero rede Depois da chuva o sol da manhã Chega de mágoa Chega de tanto penar Canto e o nosso canto Joga no vento Uma semente

Gente Olha essa gente

Olha pra gente Olha pra gente

Te quero água de beber Um copo d’água Marola mansa da maré Mulher amada Te quero terra pra plantar Te quero verde Te quero casa pra morar Te quero rede Depois da chuva o sol da manhã Canto e o nosso canto Joga no tempo uma semente Gente Quero te ver crescer bonita Olha pra gente Quero te ver crescer feliz Olha pra gente Olha essa terra, olha essa gente Olha pra gente Gente pra ser feliz, feliz Te quero água de beber Um copo d’água Marola mansa da maré Mulher amada Te quero terra pra plantar Te quero verde Te quero casa pra morar Te quero rede Depois da chuva o sol da manhã Chega de mágoa Chega de tanto penar



Mas plantar pra dividir

Não faço mais isso, não.

Eu sou um pobre caboclo,

Ganho a vida na enxada.

O que eu colho é dividido

Com quem não plantou nada.

Se assim continuar

Vou deixar o meu sertão,

Mesmo os olhos cheios d'água

E com dor no coração.

Vou pro Rio carregar massa

Pros pedreiros em construção.

Deus até está ajudando:

Está chovendo no sertão

Mas plantar pra dividir

Faço mais isso não.

Quer ver eu bater enxada no chão

Com força, coragem, com satisfação?

É só me dar terra pra ver como é

Eu planto feijão, arroz e café

Vai ser bom pra mim e bom pró doutor.

Eu mando feijão, ele manda trator

Vocês vai ver o que é produção

Modéstia á parte, eu bato no peito:

Eu sou bom lavrador

Mas plantar pra dividir,

Não faço mais isso não.




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