Há vida nova no Norte
São bandeirantes modernos
Buscando outra sorte
Fazendo com que a Amazônia palpite
E a luz do progresso de noite se agite
Seringueiro, forte e leal
Enfrentas a morte no seringal
És brasileiro, tu lutarás
E no sertão trabalharás
Na produção, pela vitória final
É tão nova nossa terra
Mil artigos há de dar
Quer na paz ou quer na guerra
Sempre, sempre a trabalhar
Povo jovem, povo forte
Cem hinos pode cantar
É muito orgulho profundo
Pois o Brasil é celeiro do mundo.
Minha querida, mamãe, é com a maior sôdade
Que envio nessa cartinha votos de felicidade
Quanto a mim e meus colegas, semos uma irmandade
Temos orgulho de ser soldados da liberdade
Aqui semos bem tratado, temos agasaio e comida
Mas quando é de tardezinha, a sôdade é delorida
Quando eu canto na viola, a cantiga é tão sentida
Que parece que eu to vendo todos os dias da minha vida
Vejo o rancho de sapé e a senhora a trabalhar
Vejo a sala e atrás da porta, vejo a vara de pescar
Os passarinho nas árvores, vejo a horta e o pomar
Inté parece que escuto as crianças a brincar
Parece um sonho isso tudo, e um sonho tão bonito
Que eu perfiro ir sonhando e quase que eu acredito
Vejo assim os meus amigos Joaquim, Paulo e Benedito
Mas quando me alembro da noiva meu coração fica aflito
Daí então me despeço, e um pensamento me vem
Que a senhora e a minha noiva sempre se quisero bem
E uma consola a outra, pelo amor que por mim tem,
Que têm o mesmo idear, são brasileira também
Ao terminar essa carta, digo com sinceridade
Que apesar de aqui distante eu sofrer grande sôdade
Eu dou graças ao bom Deus por ter a felicidade
De lutar por essa causa, a causa da liberdade
Meu filho muito querido, aqui passo a responder
A vossa linda cartinha, da quar não posso esquecer
Quando vi a vossa letra, cheguei inté a tremer
Despois decorei a carta de tanto ler e reler
A Rosinha, vossa noiva, tava doente de sôdade
Rogava à Virgem Maria com tanta sinceridade
Que a santa milagrosa, dela teve piedade
Chegando então vossa carta trazendo a felicidade
Vossa carta despertou interesse no arraiar
Todo mundo quis saber se ocê tava bem ou mar
Inté mesmo um jornalista veio me entrevistar
E seu retrato fardado estamparo no jornar
As crianças lá da vila já formaro um bataião
O fio do Nhô Tonico foi nomeado capitão
Eles marcham tão garboso, cheio de satisfação
Mas porém ninguém quer ser japonês ou alamão
Os vossos amigos Vicente, Juca, Bernardino e Mário
Também já se apresentaram no corpo expedicionário
Não vi nenhum dos parentes se manifestar contrário
Os pais têm é muito orgulho de ter filho voluntário
Vou terminar a cartinha pedindo a Nosso Senhor
Que escute as minhas preces feitas com tanto fervor
Pra que a guerra logo acabe, que em lugar de ódio e dor
Vorte essa bença divina, que é a paz e o amor”.