Trabalho como um louco
Mas ganho muito pouco
Por isso eu vivo
Sempre atrapalhado
Fazendo faxina
Comendo no china
Tá faltando um zero
No meu ordenado.
Tá faltando um zero
No meu ordenado
Tá faltando sola
No meu sapato
Somente o retrato
Da rainha do meu samba
É que me consola
Nesta corda bamba.
Você conhece o pedreiro Waldemar?
Não conhece? Mas eu vou lhe apresentar
De madrugada toma o trem na Circular
Faz tanta casa, mas não tem casa pra morar
Leva a marmita embrulhada no jornal
Se tem almoço, nem sempre tem jantar
O Waldemar, que é mestre no ofício,
Constrói um edifício e depois não pode entrar.
Marvina, eu só queria sê inteligente e ter perparo
Prá podê dizê tudo que eu sinto por vancê
Eu sei que tudo que eu quero tá iscrito no dicionário
Mais o qui adianta se eu não sei lê
Marvina, tenha dó desse sofredor que sofre por amor
E por ser tão anarfabético
Eu só queria di sê o Benedito Valadares
Prá pudê falá umas palavra bunita prá vancê
I também queria sê o Barreto Pinto
Somente para o meu físico vancê vê
Queria sê o Mangabêra para ti beijá a noite intera
I si eu pudesse sê o Getúlio Varga
prá ti namorar quinze ano e vancê não mi isquecê
Queria sê delegado por quinze minutos
Para o seu coração no meu prendê.