Autores: Fenelon Dantas e Geraldo Amâncio. Intérpretes: Idem. Gravadora: MD Music. CD: Os grandes repentistas do Nordeste vol. 6.
Torcer que o dólar malvado,
Desvalorize os reais
O Brasil endividado,
Os pobres sofrendo mais
É querer sem precisão
Ver a indexação
A volta da inflação
Quem tem juízo não faz
Querer que a nossa nação
Venda todas as estatais
Sem saber pra onde vão
Essas verbas principais
Andar com quem faz pantim
Insultando em botequim
Votar com político ruim
Quem tem juízo não faz
Discutir com gente ruim
Nenhum benefício traz
Ganhar e perder no fim
Teimar por coisas banais
Com quem tem juízo fraco
Pisar em falso ou em buraco
A fiança por velhaco
Quem tem juízo não faz
Transformar casa ou barraco
Num covil de marginais
Conversar enchendo o saco
De quem bebe e não tem paz
Deixar de ouvir vaquejada,
Sextilha, mote e toada
Só ouvir música importada
Quem tem juízo não faz
Andar com arma empestada
Em farras e bacanais
Viver dizendo piada
Com candidatos rivais
Caçar de noite sozinho
Sujeito a cobra e a espinho
Ter intriga com vizinhos
Quem tem juízo não faz
Sequestrar um passarinho
Dos seus campos naturais
Mantê-lo longe do ninho
Para ouvir seus musicais
Prender a ave indefesa
É tortura e malvadeza
Ofendendo a natureza
Quem tem juízo não faz
Colocar a mão na presa
De uma serpente voraz
Pedir apoio a empresa
Para questões sindicais
Eleger um presidente
Que tanto enganou a gente
Votar nele novamente
Quem tem juízo não faz
Ser sócio de delinquente
Pensando em lucros iguais
Pegar questão com parente
De fuxico, andar atrás
Laçar com corda de salsa
Passar enchente sem balsa
Confiar em mulher falsa
Quem tem juízo não faz
Autores: Clã Nordestino. Intérpretes: Idem. Gravadora: Face da Morte Produções. CD: A peste negra do Nordeste (2003)
Sai, sai, sai, sai da frente! A peste negra do Nordeste troca os pentes Engatilha as rimas africanas, por um mundo diferente Não improvisa, a miséria é uma ferida que nunca cicatriza Avisa as tias que reciclam a vida, num quilo de latinha Na quebrada a burguesia financia a chacina Na esquina a pretinha roda a bolsa e completa a renda mínima Entenda a armadilha e saiba que a ferida na perna do pretinho é quem paga O cruzeiro, o transatlântico romântico do casal de canalhas Pragas são como ricos e os ricos são como pragas Um dia desse o transatlântico naufraga Se a sua vida é doce, a minha fome é amarga Nem o seu cheque ouro custeia as minhas mágoas Ver você burguês sofrer, sangrar, pra mim é dádiva Odeio o teu jeito de ser, já não suporto mais vocês no poder E pros cristãos que juntam ouro e tem casas de aluguel: ‘Mais fácil um camelo passar no buraco da agulha Do que um rico entrar no reino dos céus’
Dos pretos, pelos pretos, para os pretos, com os pretos Todo ódio à burguesia Orgulho de ser da periferia
Dos pobres, pelos pobres, para os pobres, com os pobres Todo ódio à burguesia Orgulho de ser da periferia
Dos pretos, pelos pretos, para os pretos, com os pretos Todo ódio à burguesia Orgulho de ser da periferia
Dos pobres, pelos pobres, para os pobres, com os pobres Todo ódio à burguesia Orgulho de ser da periferia
Vai, chama o padre pra me exorcizar Faz uma demanda, manda o tambor rufar Chama os crentes, faz uma corrente Fecha o condomínio, esconde os filhos e parentes Guarda os carros, esconde as joias Troca o alarme das mansões luxuosas Gasta grana, reforça a segurança Blinda o seu carro, refugia as crianças Esconde o rolex, cancela o caviar Tem medo de morrer? Parou de ostentar Mais-valia: a palavra mágica pra uma noite trágica É terror, é terror, na casa da madame Cena sádica, vamos comemorar No braço, no saque, na quadrada automática Na greve, no piquete, na porta de uma fábrica Um drink do inferno aos canalhas da capa No gatilho do meu ferro o flash da revista Caras Cê vai ter que engolir minha carteira de trabalho Cê vai lembrar de mim da redução de quadro Logo eu que não fazia parte do sindicato Sempre obedeci, sempre cheguei no horário Agora eu sou o terror de canhão politizado Então segura a infinita matilha de desempregados Desemprego, desespero, filhos com medo, não é segredo não!
Dos pretos, pelos pretos, para os pretos, com os pretos ...
Cinquenta famílias dominando o Brasil Me liga, me avisa, que eu troco a minha rima por um fuzil Hey, dizem que é azul o sangue da nobreza Então vamos sangra-los e encher nossas canetas Vambora, então não demora, essa é a hora de rimar Foi a falta de escola que mandou matar Vambora, então não demora, essa é a hora de rimar Foi a falta d'água que mandou matar Vambora, então não demora, essa é a hora de rimar Foi a falta de pão que mandou matar Então, deixa o meu som bater forte no teu carro Deixa o meu som ecoar no teu barraco Deixa o meu som viajar pelo teu rádio Afinal, eu e você estamos do mesmo lado Sem direito a brinquedo, sem direito a um hobby Maioridade na grade garante os pontos pro seu Ibope Não é papo de louco, não é papo de loc No puro-sangue da minha gangue a vingança vem a galope Nos versos lokomunistas, dos pretos mais loucos do norte Palavras feitas das lágrimas de quem não para de sorrir Palavras feitas de sangue de quem não tem pra onde ir Ressuscita Negro Cosme, ressuscita Rei Zumbi Por vocês meu rap é mantra contra o FMI!
Dos pretos, pelos pretos, para os pretos, com os pretos ...
No compasso dos soluços de quem morreu de bruços Nos braços dos abraços de quem conhece o luto No rito dos sorrisos de quem visita o filho Nos olhos, bem nos olhos de quem ouviu o grito Nos dedos já sem medo de quem aperta o gatilho Nos versos controversos de quem quer mudar o mundo
Revolução na periferia!
Autor: Clã Nordestino. Intérprete: Idem. Gravadora: Face da Morte Produções. CD: A peste negra do Nordeste (2003).
Che Guevara? Presente!
Emiliano Zapata? Presente!
Rosa Luxemburgo? Presente!
Rei Zumbi de Palmares? Presente!
Malcom X? Presente!
Steve Biko? Presente!
Rosa e José Luís Sunderman? Presente!
Façamos a chamada dos guerreiros camaradas
Dos que sobreviveram ou tombaram na jornada
De todos aqueles que se ergueram em armas
De todos aqueles que mantiveram a calma
De todos aqueles que foram torturados
A todos o respeito de todas as quebradas
A peste negra se alimenta das mentes revolucionárias
Das almas de Eldorado, de inocentes, Candelária
111 já se foram e a eles minhas flores
Sentimentos de pesares que mastigam minhas dores
Ainda resistimos, nos mantivemos de pé
Nem por um segundo reduziram nossa fé
Em cada mãe que vê seu filho no crime
Em cada aliado que reforça o nosso time
No poder invencível da força da mulher
No pelotão dos zapatistas que não dá marcha ré
Na menina palestina que combate os tanques
Ou no PM preto que fez sangue no seu sangue
Os ianques vão sorrir até a derradeira hora
Também quero voar e morrer na glória
A Peste Negra do Nordeste continua sua marcha
Os inimigos que caíram são mais que nossas baixas
Você que é portador desse vírus libertário
Pode rimar agora, se prepare pro embarque
Somos lokomunistas na lokomotiva da figa, ê
Clã Nordestino
Somos lokomunistas na lokomotiva da figa, ê
Clã Nordestino
Somos lokomunistas na lokomotiva da figa, ê
Clã Nordestino
Eu sei que eu sou mais eu, se você for mais você
Só depende de nós a tomada do poder
Nas mansões eu quero ouvir os gritos de pânico
Expropriando, retomando a riqueza dos bancos
Chama os punks pra falar sobre o mundo diferente
Onde cada um de nós seja tratado como gente
Resgatar a humanidade das garras da covardia
Um só planeta, uma só família
Vamos versar a controvérsia de um outro mundo possível
Que prevaleça a amizade e o sorriso, e não o míssil
Vamos lembrar de Chico Mendes, que é um pouco de Zapata
Vamos reverenciar os dreads dos rastas
Já basta, já basta, contra as formas de opressão
A fita é cantada na minha canção
Fazer a minha parte, arte pela arte
Nunca não, nunca não
Engajado desde o berço, não esqueço de onde vim
Minha rima não tem preço
Tem começo, meio e fim
No tropeço do inimigo eu escondo o meu sorriso
Revolucionário roteiro dos meus versos de improviso
Minha família, meus amigos, pro burguês, eu sei, sou lixo
Mas são minhas amizades que enriquecem o meu espírito
Meu rito, minha estrada, meu grito, minha morada
Tomei banho nos rios, a Amazônia é a minha casa
Sagrada peste sobrevoa no labirinto
Dos meus versos contra a ALCA
Os States e os ladrões de terno
Eterno é o batuque no terreiro da minha vida
E depois que eu tombar pode chamar a minha filha
A Peste Negra do Nordeste continua sua marcha ...
Sou um mais um, sou um da peste
Conhecedor rimador de norte a sul, de leste a oeste
Da minha boca saem rimas afiadas como espadas
Tal qual pranto e lamento da criança esfomeada
Se vem o sol, há seca
Se vem a fome, aceita
Se vem a chuva, há lama
Se vem a rima, inflama
Quer me ver, vem me ver na TV, fica ligado
A palavra de ordem que baila nos meus lábios
A tropa de choque pronta pro confronto
A burguesia, vadia, perdida, em escombros
Aos mesmos de sempre hoje somamos
Pretos e brancos, mulheres, homens, humanos
Hermanas, hermanos, de tão pretos vermelhos
A foice e o martelo reflexo no espelho
Caros amigos, o abrigo da dignidade
A resistência por escrito na reportagem
Ocupar, resistir, produzir a verdade
Recuem, ------------, black block
Coragem, IV Internacional
Na América Latina é a ultima trombeta
Pro animal capitalista
E nessas horas eu não oro, eu juro
Que o revide dessa treta ainda gera um outro lucro
Nos quartéis a minha ficha vai de mão em mão
Minha foto, o meu nome, a minha missão
Preto Ghoez, soldado raso da revolução
A peste é o espectro que ronda a mansão
Só o fim da mais valia alivia a tensão
Versando a amizade, poesia e resistência
A peste é mutação, desafia a ciência
Sou estudante em Pequim confrontando o tanque
Sou a criança vomitando com nojo do ianque
A Peste Negra do Nordeste continua sua marcha ...